sábado, 26 de julho de 2014
Som da liberdade - a história do Rock in Rio
Desde o Woodstock Music & Art Fair, realizado nos arredores de Bethel, Nova Iorque, entre os dias 15-18 de agosto de 1969, estabeleceu-se um padrão de shows com vários dias, desde então surgiram inúmeros festivais de rock criados com o mesmo intuito. Mas, sem dúvida nenhum deles jamais capturou o espírito de uma época como o que iremos conferir neste artigo.
Texto original escrito por Eduardo Rivadavia (Ultimate Classic Rock)
Foi o caso da edição inaugural do Rock in Rio, que aconteceu entre os dias 11-20 de janeiro de 1985, assumindo a "cidade maravilhosa" em uma arena feita sob-medida, apropriadamente batizada de "Cidade do Rock". Para uma geração de jovens brasileiros que viviam sob a sombra opressiva da ditadura militar, isso significava mais do que até mesmo uma escala monumental, o sucesso e toda a história de talentos da música. Para eles, o Rock in Rio foi, literalmente, o "som da liberdade", e você poderia usar um forte argumento de que foi este som que continuou a ressoar ao longo dos anos, legitimando o espírito original de uma franquia que gerou várias outras edições muito além das fronteiras do Brasil.
Em qualquer caso, isso foi quase uma coincidência onde o militarismo ao longo da decisão do Brasil, finalmente consentiu nas primeiras eleições presidenciais democráticas em 20 anos, marcadas para o dia 15 de janeiro de 1985 - bem no meio do primeiro Rock in Rio. Ao longo destes catárticos 10 dias, aproximadamente 1,5 milhões de brasileiros (e turistas estrangeiros) comemoraram a sua liberdade democrática duramente conquistada na companhia de 40 estrelas nacionais e internacionais, que vão desde nomes como BARÃO VERMELHO, PARALAMAS DO SUCESSO e RITA LEE, e gigantes de todo o mundo como o QUEEN, ROD STEWART, IRON MAIDEN, OZZY OSBOURNE e AC/DC. Até o momento o YES era a atração principal na última noite do festival, com transmissões televisivas diárias, onde os brasileiros se convenceram de que um futuro imediato estava cheio de promessas e rock and roll.
E, no entanto, para o resto da década de 80, as condições para uma turnê pela América do Sul permaneceram, na melhor das hipóteses, precárias para os padrões globais, e só as maiores das estrelas geralmente possuíam recursos ou meios para se aventurarem ao sul do Equador. Quando o fizeram, suas turnês eram tipicamente limitadas a um punhado de datas, tocando em estádio apenas nas grandes cidades. Isto eventualmente provou ser um grande motivador para a tão aguarda segunda edição do Rock in Rio - previsivelmente chamada de Rock in Rio II - que aconteceu entre os dias 18-27 de janeiro de 1991, desta vez no interior do monumental e maior estádio de futebol do mundo, o famoso Maracanã.
Mais uma vez, uma seleção impressionante e eclética de estrelas nacionais e internacionais estavam no cast, e enquanto o pano de fundo político e cultural do Brasil ,na época, estava longe de ser tão dramático, estrelas como PRINCE, SANTANA, INXS, BILLY IDOL, FAITH NO MORE e, uh (sic), NEW KIDS ON THE BLOCK, deixaram pouco a desejar.
Mas talvez o maior estouro (tanto no literal quanto no figurado) tomaram os céus com a então chamada "Noite do Metal", que contou com o SEPULTURA, MEGADETH, QUEENSRYCHE, JUDAS PRIEST e GUNS N' ROSES. O primeiro choque veio quando o músico brasileiro Lobão, que foi injustamente colocado, foi bombardeando para fora do palco pelos headbangers impiedosos. O segundo aconteceu quando o Guns N' Roses (fazendo o seu primeiro show com o novo baterista Matt Sorum), alimentaram rumores de que eles teriam imposto limites sobre a encenação e iluminação do Judas Priest, na qual o Priest respondeu dando uma de suas performances mais famosas.
Ainda assim, por mais mensurado que foi, o Rock in Rio II foi um sucesso estrondoso. No entanto, a marca ainda permaneceria adormecida por uma década inteira antes de ser finalmente revivida em 2001, no local da primeira edição, onde uma nova e melhorada "Cidade do Rock" foi erguida para acomodar tanto quanto um quarto de milhão de pessoas por noite! Desta vez, as atrações principais incluíam, STING, NEIL YOUNG, RED HOT CHILI PEPPERS, REM, DAVE MATTHEWS BAND, FOO FIGHTERS e IRON MAIDEN, que gravaram um álbum ao vivo para marcar a ocasião e doaram seus lucros para o ex-baterista Clive Burr, que estava doente, ele tinha sido diagnosticado com esclerose múltipla.
Mas talvez as maiores atenções do Rock in Rio III estavam reservadas para o ressurgimento do Guns N 'Roses - embora com um lineup muito diferente - depois de quase uma década de reclusão, sustentada por fofocas por parte do frontman, Axl Rose.
Tudo isso ajudou o Rock in Rio III a derrubar seus próprios recordes de público e preparar o terreno para uma subsequente expansão geográfica, atravessando as fronteiras. De fato, em 2004, o Rock in Rio atravessaria o Oceano Atlântico para o primeiro de vários festivais bienais baseados em Lisboa, Portugal. A partir da imprensa e negócios sugestivos, todas as edições do festival em Lisboa reuniram um grande sucesso, e enquanto o número cada vez maior de artistas pop eram convidados para tocarem no festival, alguns puristas reclamaram dizendo que "Pop in Portugal" era o nome mais apropriado do que "Rock in Rio", o fato é que os roqueiros marcaram presença nos shows do METALLICA, FOO FIGHTERS, KINGS OF LEON e PAUL McCARTNEY (em 2004), RED HOT CHILI PEPPERS, THE DARKNESS, STING e novamente, o GUNS N' ROSES (2006), BON JOVI, ROD STEWART e METALLICA (2008).
A terceira edição pela Europa adicionou uma etapa do festival em Madrid na Espanha, espalhando as datas dos shows entre os dois países ao longo de vários fins de semana, estabelecendo um modelo duplicado, em 2010 e 2012, com apresentações de nomes como LENNY KRAVITZ, THE POLICE, MEGADETH, RAGE AGAINST THE MACHINE, JANE´S ADDICTION, MASTODON e METALLICA. Notavelmente, a etapa do festival em Lisboa, em 2012, foi a primeiro da série a contar com diversos palcos separados por gêneros, em um projeto aprovado vindo a se tornar tão popular entre os festivais de música de hoje em dia. Além disso, estas últimas edições foram uma das primeiras a experimentar promoções interativas, como permitir que os fãs pedissem músicas de seus artistas favoritos antes da hora.
Enquanto isso, 2011 viu o Rock in Rio reviver mais uma vez na cidade de seu nascimento, para outro espetáculo histórico de rock e pop, envolvendo cerca de 100 artistas brasileiros e internacionais. Até agora, tudo sobre o mega-evento havia se tornado relativamente familiar, a partir de sua localização perto da "Cidade do Rock" original (que em breve será adaptada para a Vila Olímpica, para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro), com uma impressionante coleção de grandes nomes (METALLICA, ELTON JOHN, GUNS N' ROSES), mas os fãs mostraram seu entusiasmo inabalável, mais uma vez, esgotando todos os ingressos disponíveis em apenas quatro dias.
Este mesmo entusiasmo infectou o Rio de Janeiro, dois anos depois, quando a quinta edição, mais uma vez no Brasil, revigorou significativamente a franquia com uma formação surpreendente de artistas top, incluindo MUSE, SLAYER, JOHN MAYER, LIVING COLOUR, NICKELBACK e, o mais esperado de todos, BRUCE SPRINGSTEEN. Estes foram acompanhados por rostos familiares, mas sempre bem-vindos, como METALLICA, BON JOVI e IRON MAIDEN, cujo retorno trouxe de volta os fãs mais velhos, um círculo completo, remetendo ao primeiro e histórico Rock in Rio em 1985, com suas repercussões sócio-políticas - mas dando prioridade à música.
A sexta edição do Rock in Rio Lisboa deu início no dia 25 de maio de 2014, ostentando LINKIN PARK, QUEEN OF THE SONTE AGE, ROLLING STONES, entre outros grandes nomes. Com a mesma emoção, foi anunciada uma edição "gêmea" do festival para 2015: uma delas, de volta em casa, no Rio pela sexta vez, e outra em Las Vegas, que marcará a estréia americana, com a construção de um novo local de encontro e festivais, nos arredores da Cidade do Pecado.
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